quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

JOGO DE DAMAS

Daminha de ouro*

José Bóia Farias, Rio

No Colégio Tomaz de Aquino, há a Escolinha do Jogo de Damas. Apenas seis alunos e quatro alunas, das 3ª e 4ª séries, freqüentam o cursinho. No quarto dia de aula, de repente, e sem quê nem por quê, um aluno disparou um palavrão. Uma coleguinha, com delicadeza, mas com firmeza na voz, indiretamente o repreendeu:
            ─ Ih, um palavrão!
E prosseguiu seus trabalhos damísticos.
Tensão na sala de aula. A turma ficou em silêncio. O professor, calado.
Passaram-se uns 10 minutos. O damista (ora na função de professor) aproximou-se discretamente do aluno e disse que gostaria de falar com ele. Apreensivo, o estudante o seguiu.
Em voz baixa, o professor lembrou que, até aquele momento, tinha havido um clima de respeito entre os alunos, dos alunos com ele, e vice-versa.
Palavra dada: não haveria mais palavrão na sala de aulas de Jogo de Damas. O professor estende a mão àquele damista.
Mas a Providência divina tem lá os seus caprichos. E decidiu não dar de ombros, como diria Machado de Assis. E, já que o momento é de testar limites... Eis que de repente a mesma menina que repreendera sutilmente o colega, não sei se um pouquinho estabanada, esbarrou com o braço na cadeira ao lado, onde pusera a sua mochila. Cadeira e mochila esparramam-se pelo chão.
Mas gente educada é outra coisa. Sorridente e caladinha, a menina logo arrumou tudo, bem rapidinho. E retornou aos estudos damísticos.
Nesse dia, o professor de Damas se deu conta de que, contanto que não seja (de formação) educador, está aprendendo (de improviso) a educar. Ou não? E simul-taneamente descobriu que, na sua Escolinha de Damas, tem não só tabuleiro de madeira e pedrinha de plástico mas também uma daminha... de ouro: a graciosa Isabela.

* Crônica publicada na Revista Domingo do Jornal do Brasil nº 1616, de 22 de abril de 2007, p.33.

2 comentários:

  1. Mas o jogo de damas é um esporte diferenciado, pois no jogo de damas se aprende a ter respeito, diciplina e educação, depois aprendemos a jogar, parabéns mestre e parabéns a Isabela.
    Um grande abraço.

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  2. Olá, professor Bóia! Aqui é Isabela, filha da Mariana! Eu amei essa crônica, eu me lembro muito bem do menino, se chama Rodrigo. Nunca me esqueci disso e fiquei felicíssima quando li. Eu sinto falta das suas aulas, eram fantásticas! Muito obrigada pelos elogios. Um grande beijo! Isabela Leoni

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